Resumo: Artigo 35833
Redes de vigilância em espaços urbanos: Cartografia de controvérsias articuladas a um dispositivo tecnológico (10, 26, 46, 52, 53, 55)
Rafael Castro, Universidade Federal do Rio de Janeiro, BrazilRosa Pedro, UFRJ, Brazil.
Apresentação: Friday, May 30, 2008 3:45PM - 5:45PM sala 201 - UNIRIO VII ESOCITE - Sessão 9 - Chair: Antonio Arellano Hernandez
Abstract.
O tema do espaço urbano tem estado bastante em voga na contemporaneidade. Entre as principais questões existentes produzidas neste âmbito, ressalta a presença cada vez maior dos dispositivos tecnológicos de vigilância na dinâmica das cidades. Partindo, então, da evidência que o ambiente urbano e seus procedimentos de planejamento aglutinam coletivos humanos e não-humanos em suas várias ordens, este trabalho buscou mapear a dinâmica das relações produzidas nesta rede heterogênea de sociedade, natureza e técnica. A proliferação destes dispositivos (como as câmeras) no cotidiano dos grandes centros urbanos apresenta considerada importância, pois que revela o caráter híbrido destas relações e ao mesmo tempo torna evidente as controvérsias que envolvem a concepção e a adoção de objetos técnicos. Tomando como eixo o referencial teórico de Redes Sociotécnicas, que se debruça justamente sobre o tema da produção de coletivos híbridos, investigou-se em que medida este tipo de abordagem poderia contribuir para a compreensão das formas contemporâneas de sociabilidade e subjetividade produzidas como efeito desta rede. A pesquisa teve como porta de entrada, portanto, a experiência do vigiar / da vigilância nos espaços urbanos, ou seja, as características desta rede produzida na presença destes novos dispositivos tecnológicos. Entendendo que cada sujeito traduz a rede diferentemente, buscou-se evidenciar as diferentes versões que compõem especificamente essa controvérsia tecnocientífica e suas ressonâncias. Entretanto, o foco de observação e estudo foram as relações o coletivo as ligações entre os atores e não os atores como individualidades. A idéia foi realçar o caráter coletivo da rede, avaliando a dimensão individual apenas através de sua repercussão na rede ou como efeito da rede. A partir da questão principal da vigilância, foi proposto como eixo temático a ser aprofundado o par público-privado e seu redimensionamento na atualidade, na medida em que este produz alguns efeitos no sentido da experiência do coletivo e do individual. Como estratégia de pesquisa, propôs-se a escolha de uma dada fração urbana monitorada por câmeras para a realização de uma cartografia segundo três momentos: gênese, situação atual e visão de futuro. O local de realização da pesquisa foi o município de Guarujá, litoral do estado de São Paulo, uma das cidades pioneiras no que se refere à vigilância por câmeras. A partir de um "estudo piloto" em uma de suas praias (Pitangueiras), no período de janeiro a março de 2005, a prefeitura do Guarujá apostou na utilização destes dispositivos como forma de combate ao crime em vários outros pontos da cidade. Como eixos de "coleta de dados", a pesquisa foi conduzida no sentido de evidenciar as diferentes traduções em dois níveis: práticas e discursos. No âmbito das práticas, observações de caráter etnográfico foram empreendidas. Quanto aos discursos, tentou-se coletá-los através das mais variadas fontes, tais como contribuições científicas e artísticas, reportagens veiculadas na mídia, documentos e, principalmente, entrevistas com os atores da rede. Foram entrevistados moradores do município, visitantes, os responsáveis pelo projeto de monitoramento e seus operadores. Para analisar o material reunido, o método utilizado foi a de "Análise de Controvérsias", cujo mote é seguir os atores na rede, de modo a evidenciar o jogo de forças envolvido nas diferentes apropriações e no processo de estabilização da rede.